Ludosaico #06 – As vezes não preciso de um universo

Obs.: A capa desse episódio foi gerada por IA por meio de um bot MEE6 do Discord.

Recentemente eu assisti ao filme AIR, disponível na Primevideo.
Não entendo quase nada de NBA, tão pouco sobre o enorme mercado de AIR Jordans que rendeu bilhões ao jogador lendário do Chicago Bulls. Mas acho que não precisamos saber tudo para desfrutar desse entretenimento. E agora eu me pergunto desde quando eu esqueci que posso consumir algo sem ter essa necessidade de conhecer seus mínimos detalhes previamente.

Olá eu sou o Kazuo e bem vindos ao Ludosaico. E nesse novo episódio do mosaico do entretenimento, pretendo trazer um pouco do meu esforço constante para não me aprofundar excessivamente em assuntos que deveriam simplesmente me distrair.

Essa minha intensidade não é uma coisa positiva ou negativa, mas sim uma característica que faz parte daquilo que eu sou, por isso aprendi (e aprendo todo o dia) a lidar com esse traço da minha pessoa a muito custo. Agradeço a minha querida terapeuta que me guiou nessa jornada até aqui.

Filmes:

Essa reflexão veio depois de um fim de semana onde assisti a um filme com minha noiva. O título escolhido foi uma obra com a duração de 1 hora e 54 minutos chamado AIR: A História Por Trás do Logo, disponível no Prime Vídeo (esse podcast não está sendo patrocinado). Mas diferente de muitos filmes e séries que costumo consumir nos diversos serviços de streaming que assino, eu não me senti na obrigação de me preparar para a sessão.

A escolha do filme foi feita apenas pelo nosso recente interesse por jogos da NBA e por um elenco estrelado, que conta com grandes nomes como Matt Damon, Ben Affleck (que também é diretor do filme), Viola Davis e outros rostos bem conhecidos de Hollywood. Sem contar que seus anúncios estavam presentes a todo o momento entre os jogos das semifinais da NBA.

Sem querer trazer uma análise completa aqui, – que não é a proposta desse episodio, – gostei bastante do que vi. O elenco escolhido não decepcionou, a proposta inicial de contar a história sobre a linha de tênis que mudou a indústria foi entregue, e o melhor de tudo é que o filme teve início, meio e fim dentro de um tempo aceitável. Sem nenhum firula, sem ter que esperar pós-créditos, sem gerar teorias da conspiração sobre o que viria a seguir…\\ e que alívio!

Eu senti naquele momento que, as vezes precisamos deixar que roteiristas, diretores, atores e atrizes e todas as pessoas envolvidas na produção dos filmes façam seu trabalho. Em vez de chegar a um restaurante já sabendo o prato e o vinho que quer, porque não pedir a sugestão de quem trabalha lá de vez em quando? Não é mesmo?

Quando mais penso sobre essa maneira custosa de consumir entretenimento, mais exemplos surgem para cada tipo de atividade que realizo quando tenho um tempinho livre.

Fazendo uma parelo com o MCU – ou o Universo Cinemático da Marvel, temos uma maratona anual de filmes que foi iniciada por um inocente Homem de Ferro, que criou expectativas enormes com a aparição do líder de uma certa iniciativa nós pós créditos, e tornou-se uma saga infinita de filmes de heróis que inevitavelmente começou a perder a mão e se dissolver em um multiverso de produções com cada vez menos engajamento.
No meio do caminho alguns amigos, que combinavam de comprar ingressos juntos na estreia, não acompanharam esse ritmo frenético de lançamentos. E isso porque, assim como uma vaga de emprego, certos ingressos não vinham sem uma lista cada vez maior de pré-requisitos. Você precisa ter assistido a horas e horas de filmes e séries para pegar as referências e ter uma experiência completa. Confesso que até eu meio que larguei a mão de correr para assistir tudo na estréia faz um tempo. Isso estava se tornando uma obrigação. E eu aqui feliz lembrando que AIR não teve pós-créditos.

Games:

Agora, migrando para outro setor do entretenimento, não poderia deixa de falar como consumo meus games favoritos.
Em um passado distante, passava dias e horas zerando diversos jogos junto com meu primo em experiências que não duravam tanto tempo, em função da capacidade dos consoles da época. Entre vários títulos, jogávamos Final Fight, Tartarugas Ninja, Double Dragon… Sempre ficava um gosto de quero mais.
Posteriormente, celebramos lançamentos de games em mundo aberto cada vez maiores e mais imersivos, como Shadow Of The Colossus, GTA, The Good Father II. Nos conseguíamos desfrutar o melhor dos games com uma fartura de tempo nessa época.
Voltando ao nosso tempo presente, vemos que uma quantidade considerável de franquias de games tem mais de uma década de história. Enquanto Kratos de God Of War já tem um filho, Assassin’s Creed tem mais de 15 anos de idade, com 20 e muitos jogos, livros publicados, HQ e todo o tipo de produto, The Legend Of Zelda com seus quase 20 jogos principais, incontávies Super Mario’s, Final Fantasie’s … A lista de grandes franquias é interminável. Enquanto isso novas IP’s chegam ao mercado com propostas grandiosas para tentar competir com outros Triple A’s consolidados, com grandes mundos abertos e várias horas de gameplay….e nesse momento eu lembro do meme sobre status de relacionamento. Não sou mais solteiro, eu sou cansado.

Por isso, exausto de tantas histórias enormes, decidi escolher uma grande franquia do coração – pelos primeiros capítulos desse podcast vocês já deve saber qual – e buscar games menos ambiciosos. Sou muito grato pela existência de games índies bonitos e curtos, sem o peso de kilometros de história e toneladas de conteúdo jogável. Mas quem disse que eu preciso zerar tudo dos triple A’s, não é mesmo? Eu poderia muito bem experimentar esses grande jogos sem precisar concluir tudo, sem manter o mesmo nível de dificuldade e poderia até desistir de jogar se não quiser mais. Afinal de contra isso não é mais um job.

Música:

Como gosto do número 3, gostaria de compartilha agora um terceiro exemplo desses “mergulhos profundos” no entretenimento que tive que administrar melhor. pilar muito importante dos meus hobbies é a música. Especificamente meus instrumentos de corda: o Violão, a Guitarra e meu Shamisen. Para quem não conhece esse último, trata-se de um instrumento antigo japonês.

Minha história com as cordas teve início graças ao meu pai, que concordou em comprar um violão para mim. Talvez eu tenha ficado tão feliz com o investimento do meu pai que resolvi me dedicar ao instrumento. E com o auxílio de algumas revistinhas de cifras e orientações de amigos, até comecei a arranhar algo na época.

Em pouco tempo, meu interesse começou a evoluir para um instrumento mais caro: a guitarra. E novamente com um patrocínio do meu pai, consegui uma guitarra e acesso a aulas com um professor, que convenientemente morava há algumas ruas de casa. Minha primeira aula foi mais introdutória, para que o Edu, meu professor, pudesse entender que eu mal sabia ligar o instrumento. Algumas arranhadas de corda e instruções e eu voltei para casa com uma folha de padrões de digitação para praticar. Foi aí que comecei ver meu potencial quando algo me interessa de verdade. Passei dias e horas tocando aqueles padrões de digitação até atingir certa velocidade e precisão. Quando retornei para a aula seguinte, falei sobre o meu progresso. E meu professor, positivamente surpreso, disse que o objetivo era tocar somente a primeira linha de padrões, não a folha inteira.
Essa era uma época em que ainda não trabalhava, então pude usar várias horas da minha semana para alimentar esse ritmo frenético de estudos que me impus na época. E por muitos anos não precisei medir esforços para me dedicar a essa paixão.

Mas, chegou um momento em que o tempo começou a ficar escasso. O trabalho e os estudos começaram a conflitar com minhas paixões, e por muito tempo tive muita dificuldade de aceitar que o dia tem 24 horas. Em diversos momentos, cheguei a exaustão tentando empregar sem sucesso a mesma intensidade em tudo o que fazia.

Hoje depois de tantos anos exaustivos, posso dizer que houve um belo progresso. Não deixei de ser intenso em tudo o que faço, mas aprendi a dividir melhor minha intensidade pelos dias da semana para não acabar esgotado e derrotado ao final do dia.

O irônico de toda essa reflexão é que eu estou escrevendo esse roteiro dentro do ônibus a caminho de casa, já que apreciar uma música pelo fone de ouvido não é o suficiente para saciar minha inquietude.

Franquias de games, filmes e universos ficcionais, continuarão a se expandir e nós continuaremos a consumir esse oceano de conteúdo, mas sempre poderemos deixar esses colossos de lado por breves momentos de diversão seja com filmes “curtos” como AIR, games simples como GRIS ou tocando músicas simples com 3 acordes no violão. Por vezes não precisaremos dos universos, podemos querer apenas de um pequeno mundo para explorar tranquilamente. Sem nenhum pré-requisito, sem experiência prévia ou inglês e Excel avançado.

CTA:
Chegamos ao fim de mais um capítulo. Obrigado pela companhia nesse ensaio opinativo. Se você gostou desse formato de conteúdo, tem sugestão para próximos temas ou só gostaria de deixar alguma mensagem, pode me enviar um e-mail pelo kazuo@ludosaico.com ou procure pelo @ludosaico no instagram.

Muito obrigado pela audiência e até a próxima!

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